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segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

2014


 


Quando a maioria das pessoas deseja que o ano acabe, que foi horrível e tal, eu tive um dos melhores anos desde 2008.
Entristeci-me quando amigos ficaram doentes e celebrei quando se curaram e estão ainda aqui para bons abraços e momentos de ternura.
Angustiei-me quando irmãos de alma passaram por verdadeiras privações, mas orgulho-me porque sabem dar a volta por cima com dignidade e nobreza. Choramos e rimos juntos e estamos para o que der e vier.
Conheci pessoas extraordinárias, revi outras que amo e estão longe. Tudo se proporcionou e conjugou de forma harmoniosa.
Em todas as adversidades aprendi coisas novas, realizei sonhos antigos como que por acaso, vivi intensamente todas as manifestações de afecto, enfim fui muito feliz.
Para o ano, não peço nada de especial. Saúde, sabedoria e forças para enfrentar o que a vida me trouxer e que desejo seja leve.
O resto vem sempre por acréscimo.

Feliz Ano Novo para todos. Façam por isso.




Um dia de cada vez






Encontrou-me desfeita, à beira de um fim prematuro, porque a vida não fazia sentido e os afectos de nada serviam. A fé tinha morrido. A frase "o que Deus une o Homem não pode separar" era uma frase sem sentido a grande mentira da história de todo o sempre. Não sobrava mais nada, não havia futuro.
Encontrou-me, quando mais ninguém me viu. Quando mais ninguém me quis. Juntou as peças, tratou as feridas, com  muita paciência, amor e dedicação. Mudou a própria vida inteirinha para permanecer a meu lado e da minha filha, para o que desse e viesse.
Passados 15 anos, embora ainda não saiba se sou feliz, porque sou eternamente sonhadora e com uma alma inquieta, olho para a minha vida e sinto-me afortunada e grata. Encontrei o amor para a minha vida. Ele encontrou-me.
Já muita água correu debaixo da ponte, muitas fases difíceis, nada é perfeito, as nossas diferenças são abismais. Ninguém tem o prémio de melhor em nada.
Apenas nos acompanhamos e contamos com o outro, somos cúmplices e amigos para o que der e vier, sabendo que nada é para sempre e que "nunca" tem uma carga castradora, logo, não serve. É assim a vida. Surpreendente.





domingo, 29 de dezembro de 2013

A corvina tem tesouros

 
 
 



Fui às compras daquelas para durar no tempo, que o Natal aqui ainda vai a meio, eu e "eles" não nos damos lá muito bem e já me chega de encontrões, mau humor, bichas (filas) e tudo e tal.
Numa grande superfície onde não costumo ir, mas hoje deu-me com força, conheci a Sara. Gira, interessante, atrás de uma farda da peixaria, com um gorro de pai Natal e a esbanjar sorrisos que até dava gosto. Quando chegou a minha vez, eu tinha a boca cheia com uma gamba que me tinha dado a provar o companheiro do lado, de maneira que não conseguia falar e o riso deu pano para mangas para princípio de conversa. Fiz o meu pedido. Uma corvina. Começou a amanhar o bicho e diz-me que existe um ossinho lá dentro que dá sorte e que com um bocadinho da mesma até se encontram dois. Que parecem madrepérola, que mos embrulha e oferece para que eu faça os meus pedidos de Ano Novo. Lenda de pescadores diz ela. De repente dou por mim ansiosa por saber o que vai sair dali, que raio de ossinhos são esses de que nunca ouvi falar e a desejar que sejam dois, porque aproveito um para dar à V. Com desejos não se brinca e nunca são de mais.
E a Sara anuncia que são dois! Vem-me mostrar, como se de um tesouro se tratasse, embrulha-os num papelinho e diz-me que o último a que pediu um desejo tinha um propósito e que se cumpriu. Assim a encolher os ombros, como quem diz que não custa nada tentar, que pode ser sorte, fé ou outra coisa qualquer.
Lá vim eu com os dois tesourinhos toda contente. Adoro uma boa lenda




quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

As nossas mentiras

 
 
 


Chegamos a uma idade em que já não sonhamos ser outro, em que nos temos de conformar e confrontar com aquilo que somos e consequentemente rendemos-nos, num quase desistir. Como se tivéssemos esgotado o tempo.
Um processo directamente ligado à mentira pura e dura, na vã esperança de nos irmos alimentando de alento, todos os dias em todas as idades a cada ocasião.
Injectam-nos de condicionalismos e expectativas, de promessas que tudo correrá bem se fizermos por isso. Hipotecamos a vida.
Mentem-nos por amor, por conveniência, por educação, por piedade, por maldade, por medo, por vaidade...e acreditamos!! Pior ainda, aprendemos a mentir e a mentir-nos.
Olho-me ao espelho. Vejo uma mulher madura, com rugas cabelos brancos, pálpebras descaídas e olhar mortiço. Não encontro a menina. Aquela a quem mentiram. Só vejo aquela que se mentiu e acreditou. Que se traiu  foi desleal e chegou aqui cheia de ilusões e com sonhos moribundos.
Já não posso ser outra, Sou esta, a mentira faz cada vez menos sentido, apazigua os medos cada vez menos. Já não vale a pena, já não me apetece e já não acredito.
É isto. Dezembro deixa-me assim, por todos os motivos e mais um. Se esperavam um post bonitinho, lamento muito estragar-vos o dia e a época natalícia (outra treta) com a minha verdade que dificilmente deixará de me atormentar. Dificilmente acreditarei noutro caminho que não seja o da morte. É para lá que vamos todos, não me mintam mais.
Mas prometo que entretanto rirei, farei rir, amarei e serei amada.
Mesmo que não seja verdade.

 (  Há um ruido na minha cabeça, no meu peito... lá muito ao longe....será que ainda ouço um grito calado da minha menina?...)




domingo, 8 de dezembro de 2013

Madiba para sempre!



 
 



 
18 de Julho de 1918 - 5 de Dezembro 2013



terça-feira, 12 de novembro de 2013

Zumba catrapumba.

 
 



O galinhedo junta-se à porta e vai pedindo senha para a aula. Uma histeria de gajas acima dos quarenta, com vontade de se sentirem sexy e tal. Sim, que a pitaria ainda sai à noite e dança tudo o que quer e lhe apetece. Ali, com a desculpa de perder peso e transpirar muito, é vê-las a atropelar-se e a desgrenharem-se para ficarem com lugar em frente ao espelho, mesmo que não sigam a coreografia, abanam todas as partes de que já se esqueceram e soltam uns grunhidos muitooooooooo estranhos.
A bendita zumba. Fui a duas aulas e não me parece que volte.
Perdi a pachorra para tanta parvoíce, e gente postiça.
PDI talvez, mas mesmo só talvez, que aguento muito bem a pedalada. Mas se aos 20 já não papava grupos, imaginem aos 50.
Naaaaaaaa!!!!


Tanta saudade

 
 
 



Hoje as saudades doem, massacram, abafam, ardem no peito. Queria sentar-me no sofá de mão dada a ver um filme, com uma matinha nas pernas. Sentir o teu cheiro e o teu calor. Não fiques triste, há dias assim.
Amo-te pai.

domingo, 10 de novembro de 2013

Eu até queria....

 
 


Às vezes e à falta do mar, apetece-me sair sozinha ver montras, coisas bonitas, sonhar.
Ontem foi um desses dias e fui até ao ECI que é o que tenho mais perto para ir a pé. Fui surpreendida ao ver que já estão ao dispor todas as coisas de Natal. As árvores, os berloques, os presépios, as caixas de música, os bonecos de neve...Como sempre, fico presa a um encantamento que não sei explicar. Passo horas a olhar para tudo envolta em sentimentos bons, em recordações. Transporto-me para o universo mágico, para o Amor que estas datas deveriam ter.
Decidi que este Natal não me ía sentir infeliz, que tenho de me sentir grata por tudo, por todo o que vivi e por aqueles que ainda me acompanham.

De volta a casa foi curto o sentimento para dar lugar à revolta, impotência e tristeza profundas que me tiraram o sono.
Notícias de uma amiga /irmã que está a passar por sérias dificuldades, numa espiral de decadência e perda de dignidade. Mantem-se a integridade, mas sabem os Deuses a que preço. Rimo-nos, mas sabem os Deuses a tristeza que esses risos ocultam, dissimulando tanta coisa sufocada.
Penso nos que poderiam ajudar e não querem, aqueles que um dia apregoaram sentimentos e amizade, mas que o outono e aos seus primeiros ventos fizeram cair as folhas e já só pensam na chuva e no próprio umbigo. Só porque a vida lhe deu uma chance, ou duas, ou algumas...e ainda assim se queixam de barriga cheia. Egoísmo puro. Culpa de mal entendidos, e perigoso quando não se percebe que nascemos todos debaixo do sol e que o hoje pode mudar num abrir e fechar de olhos para um amanhã menos confortável e mais incerto. Que somos todos vulneráveis e que as contrariedades da vida existem sem fazer escolhas.
Será para mim a primeira vez em muitos anos, que não posso resolver ou apaziguar necessidades. Em que também eu, fui atingida, não de morte física, mas moribunda de recursos.
Estou profundamente ferida. Profundamente triste.
Já só tenho palavras, abraços e beijos. Não pagam contas nem dão de comer a ninguém. Nem o presente de Natal ou outro, noutro dia qualquer, onde se vê o olhar e sorriso de uma criança.
Nestas datas tudo fica à flor da pele. Tudo toma proporções que me deixam de rastos.

Só posso dizer que estou aqui. E que apesar de custar horrores temos de ter fé e esperança no futuro.
Que nada é para sempre e que isto também vai passar. Tem de ser.
Que os Deuses vos abençoem!







segunda-feira, 4 de novembro de 2013

É por estas e por outras







Detesto cobardes, hipócritas e egoístas.
É por isso que pessoas ficaram pelo caminho, pois não teriam lugar ao meu lado.
É por isso.


quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Dar cor ao Natal

 
 


Já não se pensa em mais nada senão no Natal, enquanto eu começo a minha luta para fazer o contrário; não pensar.
Faço-vos um apelo. Estampem um sorriso num rosto de uma criança, para quem a magia ainda tem lugar. Para eles que ainda se permitem sonhar.
Procurem uma instituição, qualquer forma de encher uma alma.
Este ano chamaram-me a atenção para um projecto e deixo-vos a sugestão:

Os Anjinhos de Natal são uma iniciativa do
The Salvation Army // Exército de Salvação PORTUGAL.
Descrição
Os anjinhos são crianças desfavorecidas, às quais o Exército de Salvação, com a nossa participação e de colaboradores de muitas outras empresas ajudam a ter um Natal mais alegre. As crianças mais carenciadas são seleccionadas pelo Exército de Salvação, que faz a pesquisa no terreno junto das famílias mais necessitadas.
Depois de seleccionados os nomes e idades das crianças são colocados num cartão...
com o pedido da prenda.

O anjinho é o cartão onde vem mencionado o nome, a idade e o presente da criança em causa; um brinquedo e um fato de treino para a idade. Todos os anjinhos correspondem a uma criança específica, por esse motivo em todos os presentes deve ser colocado o número correspondente à criança, este número vem mencionado no cartão-anjinho.

Quem quiser contribuir pode solicitar o número de anjinhos que pretende através do mail: anjinhos.de.natal@gmail.com. Será enviada toda a informação do anjinho o mais rápido possível.

Estes pedidos devem ser feitos no máximo até dia 15 de Novembro e a data de recepção dos presentes deverá ser até dia 30 de Novembro. Os presentes deverão, preferencialmente, ser entregues em caixas identificadas por fora com o nº do anjinho bem visível e enviadas por correio ou entregues directamente nos Centros do Exército de Salvação.

Lisboa: (Centro Comunitário Central)-Rua Escola do Exército nº 11-B, 1150-143 Lisboa

Porto: (Centro Comunitário do Porto)-Avenida Vasco da Gama, 645 Lj 1-2 Ramalde 4100-491-Porto
 
Valerá certamente a pena.
 
 

 

terça-feira, 22 de outubro de 2013

To let go





Desde menina que sempre que estou doente e se tenho febre fico mais atenta a tudo e muito introspectiva. Lembro-me que o meu pai me inundava a cama com livros para me distrair e entre leituras, sonhos e alucinações, passava muito tempo de olhos colados ao tecto. Ao longe a rotineira máquina de costura, marcava as horas que nunca mais passavam.
Não percebia o que estava a fazer, mas chegava muitas vezes a conclusões que me inquietavam ou me tranquilizavam. De certa forma sentia mudanças dentro de mim e sentia-me mais forte.

Não mudei muito a não ser a parte do pai que já não tenho, a máquina de costura que já não ouço. Continuo com os livros e alguma TV (para a qual não tenho pachorra) e com a mesma forma de me evadir e pensar na vida. Talvez seja a fragilidade que sinto, os tempos conturbados, as coisas que se acumulam dentro de mim e que nada mais são que lixo. Muito lixo. Quando nos ajudam a ver é melhor ainda, é uma validação uma confirmação daquilo que já sabemos, mas que duvidamos, porque nos falta força, vontade ou outra coisa qualquer. Embora racionalize e quase sempre saiba o que me preocupa e porquê, tapo o sol com a peneira e fica assim atamancado a crescer a ocupar espaço e a ser nocivo.
Obrigada ao meu benfeitor. Que o nosso amigo vento leve para bem longe esta angústia.

Sinto-me só e vazia, como sempre por culpa minha, mas os fins dão lugar a recomeços.






domingo, 20 de outubro de 2013

A minha alma tem pressa


 
 


Contei meus anos e descobri que terei menos tempo para viver daqui para a frente do que já vivi até agora. Tenho muito mais passado do que futuro. Sinto-me como aquele menino que recebeu uma bacia de cerejas. As primeiras, ele chupou dis...plicente, mas percebendo que faltam poucas, rói o caroço. Já não tenho tempo para lidar com mediocridades. Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflamados. Inquieto-me com invejosos tentando destruir quem eles admiram, cobiçando seus lugares, talentos e sorte. Já não tenho tempo para conversas intermináveis, para discutir assuntos inúteis sobre vidas alheias que nem fazem parte da minha. Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas, que apesar da idade cronológica, são imaturos. Detesto fazer acareação de desafectos que brigaram pelo majestoso cargo de secretário-geral do coral. As pessoas não debatem conteúdos, apenas os rótulos'. Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos, quero a essência, minha alma tem pressa... Sem muitas cerejas na bacia, quero viver ao lado de gente humana, muito humana; que sabe rir de seus tropeços, não se encanta com triunfos, não se considera eleita antes da hora, não foge de sua mortalidade, Caminhar perto de coisas e pessoas de verdade, O essencial faz a vida valer a pena. E para mim, basta o essencial! 
 
Mario de Andrade (1893 - 1945)

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Não sei quem sou

 
 



"Não sei quem sou
Quando o coração grita e não o ouço
Quando me sinto triste sem motivo
Incompleto de não sei quê.
Espero os dias que gasto sem viver
após as noites que são eternas, sem sono com sonhos.
Não sei quem sou..."

Autor desconhecido.

quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Vou por aí





Há algum tempo que não escrevo o que me vai na alma, o que me inquieta e angustia. Nem posso, por respeito a mim mesma, que isto de dizer tudo como os malucos é complicado.
De uma ponta à outra são tantas as "coisinhas" que talvez seja por isso mesmo. Não cabe num qualquer texto, não tem lugar numa qualquer conversa.
Encurralada talvez seja a palavra do momento. Impotente também. Mas ainda tenho saúde, o bem mais precioso. Não tenho capacidade de resposta para uma série de coisas, mas acredito em melhores dias, em projectos a desenvolver. Apesar de tudo vou aproveitar os "presentes" que a vida me proporciona, sem culpas.
Viagens são o que se segue. Tesa mas viajada. E quero lá saber se até me criticam por ir por aí. São coisas que a vida proporciona que eu agradeço e me fazem feliz por fugazes momentos que é o que importa. Já estou como a gaja da mala, se não for roubar para a ter, até pode ter trezentas e cinquenta e quatro, que não tenho nada a haver com isso.
Isto também me leva a ter outros pensamentos, mas isso agora não interessa nada. Lá está, não caberia aqui, não os entenderia o comum dos mortais.
Não, não é Brasil nem Maldivas, Punta Cana ou mesmo Dubai, até porque eu queria mesmo era ir à Escócia e Irlanda, mas ainda não é desta.
Sendo assim, vem aí Florença (presente do marido pelos meus 50 anos), Londres (aproveitando uma reunião de negócios) e o meu amado Portugal que não tem nada de novo e por isso mesmo não me desilude, só mesmo o estado da Nação me entristece.
O céu é o mais azul do mundo, os amigos os melhores que se pode ter e depois aquelas coisas básicas, como o café, o pão...o cheiro, o mar.
A minha casa.


domingo, 22 de setembro de 2013

Tempo de hibernar

 
 



Mal começou, eu sei, mas já lhe sinto a presença. Ando mais calada, a olhar mais para dentro e dou por mim a fazer um balanço do que tem sido este ano. Intensifica-se a saudade e a lágrima fácil.
Não me posso queixar, nem quero. Até aqui tive um ano fantástico com muitos "presentes" da vida. É tempo também de separar o trigo do joio, de limpar o velho e preparar o novo sem resistência. Renovar a esperança apesar dos silêncios. Abraçar a calma, observar e viver o que realmente importa.
Tudo ocupará o seu devido lugar. Como sempre.







sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Momentos




No último dia de férias, resolvi sair da casa e passear pelo pinhal circundante. Já estava com a neura do fim e apetecia-me estar sozinha. Pensar, despedir-me...
Encontrei uma paisagem sofrida e triste mas bela. E afinal não estava sozinha. O meu pastou querido foi comigo.





















quarta-feira, 28 de agosto de 2013

O fim dos livros

 
 
 


Foi-me apresentado por uma amiga em Barcelona, quando me ofereceu Kafka à beira mar. Foi amor à primeira leitura e vício de devorar tudo o que posso.
Faz-me viajar em mundos imaginários, fantásticos repletos de poesia, conhecimento profundo da vida e das fragilidades do ser humano.
Sempre que leio um livro dele, a 100 páginas do fim, fico com uma angústia horrível, como se depois viesse o vazio e perdesse uma amigo querido. Credo, custa.
Este não foi excepção e para não variar, vem de encontro ao que de alguma forma sinto no momento.

" - A minha vida não vale grande coisa e o meu cérebro também não.
   - Mas tu tinhas dito que estavas satisfeito com a tua vida.~
   - Foi falar por falar- retorqui. - Todos os exércitos precisam de uma bandeira."




terça-feira, 13 de agosto de 2013

Bodas de ouro (ou isso)

 
 


Sim, sou do início da década de sessenta do século XX. Antiga, portanto. Dizia-se que o mundo acabaria no ano 2000, mas afinal ainda ando por cá.

Em pequena, pensava eu do alto da minha inocência e das profundezas do meu medo, que alguém com 50 anos, mesmo de boa saúde, era demasiado velho e estaria a ponto de embarcar desta para melhor.
Assustava-me pensar nos mais velhos, no fim próximo e na vida sem eles. Compreender a morte não era o meu forte  e talvez ainda não seja.
Fui vivenciando perdas várias, algumas prematuras, ausências dolorosas minhas e dos mais chegados, em todas as idades com mais ou menos sofrimento. Achei sempre tudo tão injusto! O meu amigo N. com 19 anos que a jogar futebol lhe caiu a baliza na cabeça, a minha tia querida que sempre pensei que me acompanhasse quando ficasse sem mãe, os meus adorados primos com 28 e 31 anos, o meu grande amor da adolescência, avó, pai...tantos mais...tantos...
Os anos foram passando, depressa ou devagar, dependendo do grau de felicidade ou profunda tristeza e eis-me a cumprir 50 anos. Meio século. Porra, é dose. Se pensei que talvez não chegasse aqui, penso agora que ainda não me sinto aquela velha que a minha imaginação inventava.
Deixei que os cabelos brancos invadissem a minha cabeça, as minhas rugas não são tratadas com cremes e afins, quero lá saber da celulite e das peles. Não fui surpreendida por nenhuma doença grave. Deixei talvez algumas futilidades de lado, dou mais valor a coisas que realmente importam.  Tento não viver de queixumes, separo melhor o que quero e não quero, tento não me arrepender de nada. Não deixo de dizer que amo, de demonstrar afecto e carinho de dar uma gargalhada sonora. Admiro a vida, do nascer do sol ao pássaro que canta na minha janela, a primeira andorinha e as folhas a cair das árvores. Confio nos mistérios e desígnios dos Deuses. Agradeço.
Portanto, não fosse o espelho (esse traidor) e não daria por nada.
Tomei decisões, por vezes deixei-me embalar pelos braços da vida até chegar aqui. Arrependimentos não sei exactamente se tenho. Tudo me trouxe até onde estou e fez de mim esta e não outra.
Seria injusto dizer que sou infeliz, porque, ainda que por tempo determinado, a felicidade visita-me. E fica, não deixo que morra em mim.
Rodeiam-me pessoas que me enchem de amor, que me dão alegria e razões para viver. Quanto ao resto, confesso-me lúcida, viva, com muitos sonhos para realizar e espero que um novo ciclo se aproxime com coisas boas que mereço, sendo feliz e fazendo feliz quem precisa de mim e me quer na sua vida.

A minha filha (a minha maior e melhor produção) diz-me:
- Oh mãe, és tão linda porquê?
Respondo:
-Não sou nada.
(Mas até acredito, porque ela vê-me com os olhos da alma)