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segunda-feira, 27 de maio de 2013

Até que enfim!!! Prémio Camões 2013








Companheiros

quero
escrever-me de homens
quero
calçar-me de terra
quero ser
a estrada marinha
que prossegue depois do último caminho

 e quando ficar sem mim
não terei escrito
senão por vós
irmãos de um sonho
por vós
que não sereis derrotados

deixo
a paciência dos rios
a idade dos livros

mas não lego
mapa nem bússola
porque andei sempre
sobre meus pés
e doeu-me
às vezes
viver
hei-de inventar
um verso que vos faça justiça

por ora
basta-me o arco-íris

em que vos sonho
basta-te saber que morreis demasiado
por viverdes de menos
mas que permaneceis sem preço

companheiros
 
Mia Couto

domingo, 12 de maio de 2013

A mãe

 
 



O Homem no seu pior estraga tudo. Com as lutas de poder, os egoísmos, falta de valores e de carácter. Falta de lealdade para com os outros e sobretudo para consigo.
Contaram-nos a história dos pastorinhos. Fazem negócio com a fé. Escondem-se atrás de estatutos da treta.
Merdices à parte, hoje apetecia-me estar em Fátima.
Podia ser no Alandroal ou em Marvão. Numa praia, numa montanha, num deserto. Não que eu precise de grandes aglomerados de pessoas para me sentir parte de um todo e consciente disso mesmo. Mas hoje apetecia-me ter ido a pé numa peregrinação ao fundo de mim.
Tenho fé na mãe. Nem me preocupa nada se era virgem, se havia pastorinhos com quem conversar  e afins. Era mulher, é a Rainha é a Deusa.
Apetecia-me mesmo. Sorrir para desconhecidos, amparar quem precisa de ajuda, partilhar a chama de uma vela. Sentir que nunca estamos sós, que somos iguais que todos temos um propósito na vida e um percurso mais ou menos doloroso. E um mundo melhor começa em cada um de nós.
Fico-me pelo sofá, nessa viagem interior na tentativa de me tornar numa pessoa melhor. Empenhada em ser condescendente, assertiva, carinhosa, tranquila, alegre e justa.

E agradecer....chorar....






sexta-feira, 10 de maio de 2013

Um hino à vida da minha vida



 


A esta hora, já estava siderada com dores há quase 30 horas. O pai pacientemente sentado num banco ao lado da cabeceira, ía-me embebendo os lábios secos com um algodão e dizendo palavras de encorajamento que já não me faziam sentido. Apertava-me a mão e eu puxava-lhe a barba.
Foi o momento mais desejado da minha vida e só por isso valeu a pena viver. E fiz a vontade ao meu pai. Uma menina.

Foi há 20 anos a 11 de Maio. Era para ser a 13, para ser mais exacta, mas ela não quis assim. 3 150Kg e 48 cm de gente. Uma pessoinha que cresceu em mim e que eu ansiava conhecer, saber como era, apresentar-lhe o mundo. Com o imenso sentido da responsabilidade e o receio de não ser capaz de transmitir o que vale a pena. Construir uma personalidade.

Apesar de todas as adversidades durante estes 20 anos e longe de ter a missão cumprida, acho que não me saí mal. Não tenho do que me queixar, não tenho mesmo. E quando a coisa anda torta, lembro-me de mim, sei o que que não quero, o que aprendi e a coisa vai.
Aprendi com este ser, a melhorar-me. Aprendi a crescer e a lutar quando me apetece desistir. Aprendi que não se ama a mais ninguém neste mundo como a um filho.

E é isto. (Seria muito mais se não me faltassem as palavras)

Que os Deuses te favoreçam meu amor, durante e depois de mim.





Mais um dia debaixo do sol

 
 



Aqui ando, sem muito para contar, entre as noites mal dormidas  a ver se respira, a estar atenta a ruídos estranhos na noite.
A brincadeira já se repetiu e eu tinha ido a pilates. Uma hora, apenas uma hora.
Esta semana já não fui.

Sinto-me com uma calma estranha, uma anestesia boa. A força que preciso para levar a água ao moinho.

Estamos vivos e é o que importa.