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sexta-feira, 29 de agosto de 2014

A minha avó Tucha tinha uma trança


 





Há momentos de mãe e filha, daqueles mesmo bons, em que o tempo pára, a comunhão é total, o carinho transborda. Para compensar as arrelias diria eu, que de vez em quando ando esquerda. As mãos dela têm magia, aquele toque terapêutico desde sempre.
Senti-me mais filha que mãe neste caso e fui recordando quando lhe punha os elásticos e as fitas. Quando a penteava e pintava nos carnavais e ela muito pequenina e muito quietinha.
Viajei até às memórias da minha avó Tucha, que tinha uma trança que fazia à noite como um ritual e  eu adorava observar. Tirava os ganchos do carrapito, penteava muitas vezes e fazia a trança com destreza. Era linda aquela trança e sempre quis ter uma. A minha avó cheirava a alfazema. Dos saquinhos das gavetas e contava-me estórias de encantar. Era doce a minha avó.
Lembrei-me desses poucos momentos com ela, de quem me foi curta a companhia e que eu amava.

É o ciclo da vida.



quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Tenho a saúde doente

     
 
 
Tenho a saúde doente.

Tenho a barriga nos ombros
e a cabeça no ventre.

Tenho os pulmões nos ouvidos
e o coração está na boca.

Penso com os pés
com as mãos

e no meio da confusão
ando de pernas para o ar.

Tenho a saúde doente

por ser poeta
e ser louca.

(Manuela Amaral, 1934-1995, Portugal
in "Tempo de Passagem, 1991)
 
 
 

sábado, 23 de agosto de 2014

Romarigães

 
 
 
Ilustre casa de Romarigães



Foi uma flashada. No cemitério há uma lápide com o nome do meu pai.
Para além das borboletas brancas ele mostrou-me que está sempre comigo.



 
 
 

sexta-feira, 22 de agosto de 2014

As férias


 
 
 
 
Da Girassol



Tive muita vontade e escrever nestas férias, mas a net nunca ajudou.
Foram muito estranhas. Tinha planos que não concretizei e fiquei com a sensação de que, com os anos, aquilo que me parecia eterno, acaba agora num instantinho. Pereceu-me uma corrida sem vencedores. Soube-me tudo a pouco e as saudades começaram antes de tempo, fora de lugar.


 
 
Peripécias muitas, afectos no auge.
Evitei pessoas e lugares. Não tive vontade, nem paciência, que isto de só se lembrarem de mim para as desgraças cansou-me. Fartei-me.

 
 
Como tive mais tempo para mim e para os meus pensamentos, dei comigo a observar com mais atenção o que me rodeia. O mundo está mesmo doente, as pessoas mal educadas, as criancinhas insuportáveis, os valores foram-se...

Um domingo na praia é um horror, dia que eu evito, mas que pela distância do mar e sendo o meu último dia me convenceu a ir até lá. Pude ver os maridos a cumprir calendário, a fingir que jogam à bola com os filhos, enquanto elas com ar de frete, ficam a fingir que leem na toalha. Todos muito felizes, claro está. Os gordos, os magros...só me lembrava que para ir à praia, basta ter um corpo, praia à mão e muita vontade, o resto que se lixe.
Ainda há famílias inteiras, com respectivos farnéis, 50 guarda sóis e muito barulho.




Comoveu-me um casalinho de velhotes, carinhosamente a por creme um no outro. Que os faz estar ainda juntos? O hábito? A dependência? Será amor ainda? Amizade?
E enojou-me o maridinho querido a por creme nas costas da mulher grávida e a galar a gaja do lado.
Cada um sabe de si, pois com certeza, mas a discrição ficou onde?






No Minho, na aldeia havia festarola e desde cobras e lagartos (literalmente), a música popular e pimba aos berros nos altifalantes foi uma farturinha.


Como sempre, valha-me o amor. Por todos com quem partilhei os melhores momentos e me fizeram feliz.
Obrigada!