(1982)
Muitas são as vezes que fujo de mim. Por me fazer mal, com os meus medos, angústias, saudades. E fujo para longe, mantendo-me por lá o mais que posso. Hoje, fui à minha procura e ainda não percebi se foi intencionalmente.
Desci à cave à procura de uma foto. Sabia que me esperava chafurdar no passado, passear pela memória. Passei por vários caminhos. Desde bilhetes da minha filha quando era pequenina, desenhos, pagelas de santos, carteiras e agendas de anos anteriores, óculos antigos, (para que raio guardo eu óculos velhos?) slides, a certidão de casamento, o bilhete que me deixou o ex quando saiu de casa, Sim um bilhete, faltou-lhe a imaginação para mais. E este faço questão de guardar, para nunca me esquecer de que mereço mais. Muito mais.
Passei pelo meu pai, encontrei a carteira dele (com 7 fotos minhas de passe em diferentes idades), tropecei em apontamentos vários.
E cheguei até ti. Curioso, passaram 17 anos desde que te foste, pensei ter a dor apaziguada, as lágrimas secas e as memórias esbatidas. Bastou encontrar os teus poemas, uns com a tua letra, outros passados a limpo por mim, para ficar com este nó no estômago, esta impotência de te rever.
Senti o teu cheiro, ouvi as tuas gargalhadas, limpei as tuas lágrimas. Fui contigo à praia, ao cinema, comer um gelado e dançar. Vagueámos pelas ruas de Lisboa. Rí-me como só me ria na tua companhia.
Não sei quanto tempo fiquei assim, nesse torpor. Acho que ainda não voltei de lá.
Este poema é teu:
Ninguém se lembra dos mortos
"Ninguém de lembra dos mortos
Só a terra fria lhes dá ternura
As efemérides são falsas
Apenas dão força aos vivos
Que continuam caminhando
com a sua usura
Costumeira...
Domingueira...
Não morres para recordação
Morres para esquecimento
Pois a dor que se sente
Ao tocar a tua mão fria
Apenas dura um momento
O resto á hipocrisia
A morte é vazio
No entanto, eu sei que tu sentes
Atracção pelo suspiro final
Por esse último espasmo banal
em que pela primeira vez te mentes
Eu mesmo, a essa atracção não escapo
Muitas vezes me quero anular
serei como tu?
Terei de morrer para amar a vida?
Que me escapa
À sucapa."
A última vez que te vi eras pó, cinza e nada, parafraseando a poetisa.
Mas ainda te amo muito, minha querida alma gémea.
13-02-2012
(Para o meu primo Fernando Elvenick)
5 comentários:
É lindíssimo Luísa e uma homenagem incrível. Beijos.
Obrigada querido amigo, de vez faz-me falta exorcisar fantasmas.
Era um ser muito especial.
Olha, consegues sentir o meu abraço?
Amo-te pelo que és.
P.S: vai buscar a caixa dos lenços, para as duas.
Consigo, basta fechar os olhos.
Bjs grandes.
arrepiada...
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