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quarta-feira, 27 de julho de 2011

Os imortais


"Aprendi com a primavera; a deixar-me cortar e voltar sempre inteira."

Há pessoas nas nossas vidas que nos parecem imortais, acima de qualquer contratempo e, que pode desabar o mundo, que inexplicavelmente estão sempre lá de uma forma ou outra.
A "torre " da minha vida cedeu pela primeira vez aos 84 anos. A minha mãe. Mulher de uma força única, resistente a todas as intempéries. Desde que o meu avô lhe fez um caixão quando tinha um mês, pensando que ela morreria com a sua gémea (a tia Emília) até recomeçar a vida do zero uma e outra vez, a última delas há 3 anos quando o meu pai partiu e eu a trouxe para terras de Espanha, longe de tudo o que lhe é querido e familiar para não a deixar sozinha.
 Não temos uma relação de mimo, abraço e beijo. Curioso porque sou uma melosa, mas é, sempre foi assim. Não me lembro que me tenha dito que me ama. Talvez porque teve 6 irmãos mais novos, não foi alvo de muitos carinhos, família humilde, muitas privações e provações. Não teve tempo para permitir-se ser frágil.
No entanto aprendi a "ouvir" essas palavras em pequenos e grandes gestos ao longo da vida,
Somos como a água e o vinho, nada a ver, com muitas diferenças e arrufos, mas uma sem a outra não encaixa nos planos. Daquelas coisas inexplicáveis, relação de amor/ódio, enfim. Já desisti de tentar perceber.
Foi um princípio de enfarte, que fez abalar as estruturas. mesmo aflita com dor, esperou 40 mnutos antes de me ir acordar, pôs o comprimido debaixo da língua mas não resultou.
Vê-la render-se aos cuidados da equipa do 112, sem reclamar, nem protestar, fez-me perceber que afinal ali dentro há tanta vulnerabilidade à espera de se poder revelar. A ceder.
Difícil de digerir.
Depois a preocupação de não perceber castelhano e não se fazer entender. Uma noite passada nas urgências a dormir num banco com a Vera, o Paulo no carro com o Pepper. Uma longa espera. Quando às 7H00 furei os corredores para a ir procurar e ver, estava lúcida, sem dores e preocupada comigo!

Chego á visita ponho a minha mão na dela, (como estás?) mas não recebo afago de volta.

Parece estar bem, come bem, já vai à casa de banho sozinha, tem a tensão controlada, mas esperamos exames aos rins (insuficiência por causa de ser hipertensa) e novo ecocardiograma.
E hoje, era vê-la a fazer planos para as férias, onde vai ficar, o que quer fazer.
Invejo esta mulher e em vez de me zangar tenho tanto que aprender...

E eu digo: Amo-te mãe. Estranhamente, mas amo.

Quero-te em casa o quanto antes. O Pepper está triste.

8 comentários:

Coisas de Feltro disse...

Leio-te com um sorriso. A tua mãe ama-te e o seu silencio é a forma de te proteger. Sabes o que eu acho: herdaste dela a força, e nisso são semelhantes.
Beijo p ti e manda-lhe um beijo da minha parte.

Ana disse...

Querida,este texto é lindíssimo e comovi-me(mais do que uma vez) a ler-te.
És linda, com uma capacidade de amar que abarca este mundo e o outro. És espalha-brasas, com o coração na boca e o gesto sempre pronto. A tua mamã é diferente: mais contida, mas com a mesma capacidade de amar e de dar, pelos que ama.
Olha, vocês são lindaaaaaaas, pronto(s)...e eu já estou outra vez, a chorar.
Amo-te.
Beijos enormes para ti e para a tua mãe :)

Luísa Lopes disse...

Coisas de feltro, acho que tens razão. As semelhanças são o que nos faz ter atritos, dos passageiros, claro.
Bjs

Luísa Lopes disse...

Ana
Quando eu deixar de ser assim algo de muito grave se passa. Não sei ser de outra maneira.
E ter pessoas como tu na minha vida é uma benção.
Amo-te de volta.

Paula disse...

O que dizer a isto?
Apenas as minhas orações estão contigo

Luísa Lopes disse...

Obrigada querida Utena.
Amén!

Sofia disse...

Olá Luisa, vim conhecer o teu blog e gostei imenso, identifiquei-me com a tua escrita, com o teu sentir, com a tua forma de ler o mundo.
Beijinhos e muitas felicidades,
Sofia

Luísa Lopes disse...

Olá Sofia, benvinda. Obrigada pela simpatia e foi o que senti com o teu. E é bom estarmos rodeados por quem nos dsabe "ler".
Beijinhos