"Aprendi com a primavera; a deixar-me cortar e voltar sempre inteira."
Há pessoas nas nossas vidas que nos parecem imortais, acima de qualquer contratempo e, que pode desabar o mundo, que inexplicavelmente estão sempre lá de uma forma ou outra.
A "torre " da minha vida cedeu pela primeira vez aos 84 anos. A minha mãe. Mulher de uma força única, resistente a todas as intempéries. Desde que o meu avô lhe fez um caixão quando tinha um mês, pensando que ela morreria com a sua gémea (a tia Emília) até recomeçar a vida do zero uma e outra vez, a última delas há 3 anos quando o meu pai partiu e eu a trouxe para terras de Espanha, longe de tudo o que lhe é querido e familiar para não a deixar sozinha.
Não temos uma relação de mimo, abraço e beijo. Curioso porque sou uma melosa, mas é, sempre foi assim. Não me lembro que me tenha dito que me ama. Talvez porque teve 6 irmãos mais novos, não foi alvo de muitos carinhos, família humilde, muitas privações e provações. Não teve tempo para permitir-se ser frágil.
No entanto aprendi a "ouvir" essas palavras em pequenos e grandes gestos ao longo da vida,
Somos como a água e o vinho, nada a ver, com muitas diferenças e arrufos, mas uma sem a outra não encaixa nos planos. Daquelas coisas inexplicáveis, relação de amor/ódio, enfim. Já desisti de tentar perceber.
Foi um princípio de enfarte, que fez abalar as estruturas. mesmo aflita com dor, esperou 40 mnutos antes de me ir acordar, pôs o comprimido debaixo da língua mas não resultou.
Vê-la render-se aos cuidados da equipa do 112, sem reclamar, nem protestar, fez-me perceber que afinal ali dentro há tanta vulnerabilidade à espera de se poder revelar. A ceder.
Difícil de digerir.
Depois a preocupação de não perceber castelhano e não se fazer entender. Uma noite passada nas urgências a dormir num banco com a Vera, o Paulo no carro com o Pepper. Uma longa espera. Quando às 7H00 furei os corredores para a ir procurar e ver, estava lúcida, sem dores e preocupada comigo!
Chego á visita ponho a minha mão na dela, (como estás?) mas não recebo afago de volta.
Parece estar bem, come bem, já vai à casa de banho sozinha, tem a tensão controlada, mas esperamos exames aos rins (insuficiência por causa de ser hipertensa) e novo ecocardiograma.
E hoje, era vê-la a fazer planos para as férias, onde vai ficar, o que quer fazer.
Invejo esta mulher e em vez de me zangar tenho tanto que aprender...
E eu digo: Amo-te mãe. Estranhamente, mas amo.
Quero-te em casa o quanto antes. O Pepper está triste.