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quarta-feira, 23 de maio de 2012

Ode à tristeza




Eu canto esta alegria

(entristecida)

de tanto te lembrar

e ser saudade




E a minha voz é forte

timbrada de dias

e distâncias

com as palavras todas mastigadas


(E se tristeza tenho

que me reste

não me julgues parada

ou indecisa

Cristalizei meus olhos de chorarem

e o meu olhar é firme,

certeiro ao teu encontro)


Eu canto esta alegria

de segredar-me ao vento

e seguir viagem


em direcção de ti





leve

impensada

informe

e num fluir de aragem

ser transformada em ar

Pedaço que respiras.

E nos meus dedos mansos

- veludos que pisaram

teu corpo em movimento-

vou amarrar o tempo

as letras do teu nome


E depois morrer.

Eu canto esta alegria

de saber-te


Manuela Amaral in Esta Coisa Quase Vida - 1993 Fora do texto

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