Ontem fui a Lisboa e voltei. Saí cedo e cheguei tarde. Um dia extenuante, entre aeroportos, reuniões eternas, enfim, um dia diferente para mim, igual a outros tantos para alguns.
Quando cheguei a Barajas, esperavam-me o meu marido e o meu cão. Sentí-me acolhida e acarinhada entre beijos, abracinho e lambidelas. Pensei mesmo, se não tinha estado ausente um mês. Cá por mim, feliz da vida, que eu gosto muito de ser mimada e sei que sou porque também mimo.
Chegámos a casa e a minha mãe tinha o jantar à minha espera com mais mais um abraço e beijos. A minha filha, dormia com o gato e fui à cama "deles" dar beijos e ouvir ronrons.Tudo tão normal e banal, não é?
Quando por fim me fui deitar, pensando que ía dormir como uma pedra, os meus alertas começaram.
Lembrei-me dos que não têm casa (mandei-lhes um beijo em silêncio)
Lembrei-me dos que voltam a uma casa vazia (mandei-lhes um beijo em silêncio)
Lembrei-me dos pais que deixaram de poder beijar os filhos (mandei-lhes um beijo em silêncio)
Lembrei-me dos que vivem amargurados e zangados com a vida (mandei-lhes um beijo em silêncio)
Até porque sei o que é não ter casa, voltar para uma vazia, viver triste e zangada. No entanto nunca estive só. Tive sempre muito amor e carinho à minha volta, muitas vezes vindo de pessoas sem história na minha vida. Acabadinhas de chegar.
Se isto é uma forma de rezar, acreditem que rezei muito.
E adormeci.